sábado, 27 de julho de 2013

Perceber o que Poiares Maduro parece não perceber

Poiares Maduro declarou que não é fácil dizer aos negociadores da troika que o programa de austeridade falhou, que há uma fadiga de austeridade e necessitamos de melhores condições.

Diz de seguida que melhores condições - mais tempo e a aceitação de mais déficite - representam sempre mais dívida que depois teremos de pagar.

É difícil aceitar que uma pessoa que é ministro se recuse a perceber o que dizem os detratores do atual programa.

Eu vou tentar explicar-lhe:

#1 Há economistas - muitos do PSD - que dizem que o excesso de austeridade aumenta a dívida. Imaginemos que por excesso de paixão pela via da austeridade o governo retira num ano 5.000 milhões da economia e a recessão provocada leva a uma diminuição da receita e a um incremento de despesa nas áreas sociais de, suponhamos, 4.000 milhões. Toda a operação rende 1.000 milhões ao governo e empobrece o país em dose excessiva.  Caso o governo decidisse retirar apenas 2.500 milhões e essa fosse a dose certa, a perda por recessão e incremento da despesa social seria apenas de 1.000 milhões, resultando num rendimento de 1.500 milhões ao governo. 1500 é mais que 1.000. Esta é a tese.

Em resumo, o excesso de austeridade é pior para a dívida que a dose certa de austeridade.

É difícil saber qual é a dose certa de austeridade mas não é difícil perceber o argumento de que diminuir a austeridade não é o mesmo que aumentar a dívida. Um ministro devia conseguir perceber este argumento e responder-lhe caso discordasse.

#2 A operação de financiamento da economia portuguesa suscita prejuízo a alguns estados como Itália e lucro a outros como a Alemanha. Não é difícil perceber o argumento que que a Alemanha não deve obter grande lucro liquido com esta operação e deve baixar os juros do que nos empresta para pelo menos 0%. Mesmo assim teria lucro.

#3 Os fundos europeus deveriam, a título excepcional e durante um período limitado de tempo - por exemplo 5 anos - poder ser usados para financiar investimento à economia portuguesa sem contrapartida do nosso lado: ou seja deveriam poder haver programas 100% financiados pelos fundos europeus, evitando a sua não utilização por falta de verbas locais.

#4 Países do centro europeu podiam investir direta ou indiretamente em Portugal caso se identificassem setores que fossem úteis às suas próprias economias. É o caso óbvio do investimento no complexo ferro-portuário de Sines benéfico para a economia Europeia como um todo.

Etc, etc.

Poiares Maduro ou não percebe os argumentos dos detratores do programa ou finge que não percebe.
Ambas as posturas resultam no mesmo.

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