sábado, 30 de abril de 2011

Foster City, California

Numa conferência recente a que assisti em Lisboa, Norbert Bischofberger  o Chief Scientific Officer duma multinacional farmacêutica  sediada na Califórnia questionava-se acerca do sucesso da indústria desse estado, quando confrontado com os outros estados Norte Americanos. 


Porquê o sucesso na criatividade empresarial, na capacidade de gerar ideias e traduzi-las em valor económico, apesar dos elevados impostos em vigor nesse estado?


Todos conhecemos empresas inovadoras como a Apple, a Google, a Yahoo!, a AMD, a CISCO, a HP, a Intel, a EA, a Mattel, a Northrop, a ORACLE, a Walt Disney, a Amgen, a Gilead Sciences, a SUN, a Symantec, a Twitter, a Pixar, a Dreamworks, a Ebay, a Genetech, a CBS, a Facebook, etc, etc que se localizam nesse estado. Porquê essa concentração?


Segundo Norbert Bischofberger, o austríaco que descobriu o Tamiflu, a Califórnia tem um ambiente corporativo único nos USA de que recordo algumas características:


1) O prestígio social muito alto associado a ter criado uma empresa, mau grado tenha tido sucesso ou não.


2) O facto dos bancos locais financiarem mais facilmente startups criadas por quem já tenha criado empresas no passado mesmo que estas tenham ido à falência. Noutros estados um empresário que vá à falência é considerado de alto risco - na califórnia é ao contrário: os bancos consideram que um empresário costuma ter sucesso na segunda ou terceira empresa que forma e não na primeira e por isso o risco baixa mesmo após a falência da primeira ou segunda empresa.


3) O optimismo geral da população que acredita que tudo é possível e o céu é o limite.


4) A desvalorização dos feitos do passado quando comparado com o que está para vir associado à sensação que esta é a geração de ouro.


O Governo da Califórnia está falido mas a economia continua pujante. 







terça-feira, 26 de abril de 2011

FMI versus UE

O FMI parece melhor que a União Europeia nesta negociação.

Porque é que Sócrates mesmo não querendo a ajuda da UE se demitiu de, a partir de Agosto / Setembro, tentar sequer um acordo parcelar com o FMI, mesmo que este envolvesse apenas os cerca 30% que o FMI nos vai dar agora?

Porque demonizou o FMI com quem já tínhamos feito um acordo no tempo de Mário Soares e Jacinto Nunes e porque endeusou a UE que o elogiava mas sufocou a Grécia e a Irlanda e parece querer sufocar-nos a nós?

Serenidade

Serenidade. Uma palavra a usar. Quer Portas quer principalmente Passos Coelho podem usá-la com verdade. Cola muito bem a Passos.

Fibra serena, coragem tranquila.

Sócrates está descabelado. Insulta tudo e todos. Quer o PSD com presidências rotativas. Insulta Louçã e o Partido Comunista. Correu com o ministro das finanças das listas. Freitas e Soares aconselham-no a tentar voltar ao mundo real mas ele está de cabeça perdida.

O país precisa de Fibra Serena, Coragem Tranquila.


Assinar e renegociar quando legitimada pelo povo

O representante do PSD ensaiou um discurso errado ontem no confronto televisivo a que aludi no que toca a quem assina.

Disse que os partidos da oposição tinham de apoiar mas não de assinar.

É exactamente o contrário.

O PSD e o CDS têm de dizer que o Governo está a tentar fugir do barco que o próprio governo afundou. A oposição exige que o governo governe. Já percebemos que não está ninguém ao comando do barco, já percebemos que Sócrates levou a crispação para dentro do conselho de ministros e mal consegue falar com o ministro das finanças. Mas mesmo que saibamos que estão em campanha eleitoral desde Setembro, à procura duma desculpa para culparem os outros pela sua incompetência e não tenham serenidade para estar ao comando do país, o mínimo que o povo que este governo empobreceu exige é que não fujam do barco.

O PSD e o CDS têm de dizer que o agravamento do déficite de 2010 dificulta a nossa negociação com a troika.

O governo conta a história de que foi o iceberg que foi embater contra o nosso Titanic, nunca foi o Titanic a embater contra o iceberg. Algumas pessoas aceitam a teoria de ter sido o iceberg a perseguir o barco até o afundar. Mas mesmo essas pessoas não podem aceitar que o comandante seja o primeiro a abandonar o barco.

A oposição que tem sentido de estado, mesmo se discordar do resultado final do acordo, fará aquilo que era o dever do governo se o governo se demitir de assumir o comando do país: assinará. Quem devia negociar linha a linha e assinar o que acordar com a troika é o governo mas se Sócrates se demitir das suas responsabilidades a oposição assume o vazio e mesmo discordando assina e renegociará mais tarde quando mandatada pelo povo após 5 de Junho.

Quem assina

Trava-se neste momento uma batalha de imagem de certa importância.

Trata-se de saber quem vai ser responsabilizado por tudo o que se assinar com o FMI / FE.

Os partidos necessitam pontuar em duas tarefas aparentemente contraditórias:

1ª não serem identificados com o sofrimento provocado pela receita do FMI/FE.
2ª não serem tidos como irresponsáveis abandonando o país e atirando-o às feras.

Múltiplos agentes estão a passar a ideia de que nos temos de pôr todos de acordo para que o país tenha futuro a curto prazo. Esta ideia já está vendida e é perda de tempo lutar contra ela. Para além disso os negociadores externos exigem que o que se acordar agora seja cumprido no pós eleições, obrigando de facto a um acordo.

Sócrates quer que todos assinem o acordo com a troika - Presidente da República, Governo e Partidos. Assim a sua responsabilidade fica diluída.

O Presidente da República, sendo mais forte e não sendo candidato a reeleição pode com facilidade não assinar nada.

Explica facilmente que não governa e portanto não pode assinar. Tal como o Supremo Tribunal e o Tribunal Constitucional não assinam. São órgãos de soberania mas não governam.

O PS tem de assinar pois está no governo e o governo vai ter de assinar. A sua luta vai ser obrigar o PSD (e o CDS) a assinar.

O PSD e em menor grau o CDS têm decisões difíceis a tomar. Poderão ser parcialmente salvos se a própria troika disser com clareza que tipo de acordo exige de cada parte. Aí será fácil dizerem que assinaram por motivos patrióticos mesmo que discordem do acordo.


Sub-cultura dominante

Há, por entre a diversidade de pensamentos estruturados que coexistem e interagem numa comunidade, alguns que são prevalecentes. Representam muitas vezes uma sub-cultura dominante e as pessoas que os defendem têm a vida facilitada pois as suas "frases curtas" são bem compreendidas uma vez que se sustentam num denominador comum não expresso.

Essa superioridade é facilmente identificável pela postura e agressividade dos seus defensores. Em pré-campanha eleitoral o jogo de forças sente-se quase fisicamente.

A batalha da linguagem

Em política para além de inúmeras outras batalhas trava-se uma batalha pelo predomínio de uma linguagem sobre discursos alternativos. Essa batalha ajuda a definir o campo semântico eficaz, se não mesmo o tolerável. Trava-se durante muitos meses ou mesmo anos, bem antes de qualquer campanha eleitoral.

Nem todos os envolvidos têm, como se perceberá, a clara noção deste facto.


Chegados à campanha há pouca margem de manobra a esse nível, sendo aí a refrega reservada a dois ou três temas e à capacidade de vender uma imagem do próprio e uma imagem do adversário.