domingo, 23 de novembro de 2014

Sócrates, os tontos e Nuno Garoupa

Nuno Garoupa, que consegue ser catedrático de direito e não ter o provincianismo do costume, diz, numa entrevista hoje no Expresso, o óbvio. Que o julgamento judicial e o julgamento político são coisas diferentes, que seguem regras diferentes. Há muito que o afirmo, em contracorrente.

Mas não diz a outra parte, a politicamente muito mais incorreta: essas regras são dúplices. Castram o julgamento político cingindo-o às normas do julgamento judicial, mas só se aplicam quando o acusado é de esquerda.

Quando é de direita nem é necessário haver acusação judicial - avança-se direto para o julgamento popular sem mais demoras. Veja-se o caso de Portas e dos submarinos.

Quando o alvo está à esquerda, pode ser acusado pela magistratura de crimes sexuais contra crianças  ou corrupção à escala dos milhões, que a presunção de inocência no julgamento judicial é usada para impedir o julgamento político. Fortíssimos indícios judiciais de saque em larga escala são silenciados porque todos são inocentes até prova em contrário.  E os mesmos que enfatizam a presunção de inocência judicial, tratam de atacar a justiça com todas as forças que têm para impedir o julgamento dos apaniguados. Não se pode julgar politicamente até haver julgamento judicial e depois impede-se o dito. O que interessa, percebe-se, é que os putativos criminosos de esquerda nunca sejam julgados pois eles na verdade não são inocentes à partida - são é inocentes à chegada.

Quando o alvo está à direita, mesmo que tão só culturalmente, aí já basta a teoria da conspiração e zero provas, para as Anas Gomes (inteligente mas desaustinada) e as Claras Ferreira Alves (também desaustinada, mas sem o resto) gritarem "fogueira, fogueira"  à primeira suspeição jornaleira.

Para atacar a direita e as profissões independentes não há presunção de inocência. Ela só existe quando se atacam, com fortes indícios, os indiciados corruptos à esquerda.

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