segunda-feira, 24 de novembro de 2014

Sócrates, Marinho e Pinto e duas cartas de Duarte Marques

Marinho e Pinto é mal querido pela esquerda e pela direita. Em boa parte isso acontece por dizer coisas que só tem coragem de afirmar quem não tem acesso à televisão e aos media de grande dimensão. Isso é um mérito.

Mas essa coragem convive no mesmo homem com problemas inultrapassáveis de incoerência.

O mais visível foi o seu comportamento quando conseguiu deitar as mãos ao ordenado de até 18.000 euros todos os meses, como eurodeputado. Isso deu-lhe acesso a meios financeiros superiores aos habituais e perturbou-o. 

Como bem lhe recordou um deputado do PSD, numa troca de cartas mal escritas mas cheias de verdades, publicadas no Expresso e de que Marinho e Pinto sai muito mal-tratado, quem envereda pelo caminho fácil de dizer que os ordenados dos eurodeputados são uma roubalheira ao povo deve devolver a parte que considera excessiva, como faz o espanhol Iglesias do Podemos.

Não se pode abotoar com ele usando desculpas esfarrapadas. Se o ordenado é mau para os outros tem de ser mau para ele. Marinho aparece, aplicando-lhe o seu próprio remédio, como um comilão.

Ao pé de Sócrates que aparenta ser, com o seu amigo Salgado do BES, o grande comilão, Marinho e Pinto é apenas um pequeno comilão. Mas o que espanta é que enquanto Sócrates viveu anos de contenção, Marinho vendeu a alma na primeira oportunidade. Foi triste e, principalmente, foi precipitado.

É claro que Sócrates é acusado não apenas de ganância, mas de crime. O seu dinheiro, ao contrário do ordenado de eurodeputado de Marinho e Pinto, terá sido roubado não em sentido politico, mas no sentido criminal.

Mas também é verdade que Sócrates, como Marinho e Pinto, foi corajoso nalgumas medidas. Menos corajoso que Passos Coelho, mas corajoso.

Temos portanto três homens corajosos politicamente: Sócrates que a justiça acusa de ser um bandido, Marinho que Duarte Marques pôs na ordem recentemente, por destilar ódio, ser ignorante e ser incoerente e Passos Coelho que, não sendo um Sá Carneiro e rodeando-se de figuras pouco recomendáveis como Relvas e Paulo Macedo, está léguas acima dessa gente.

Marinho e Pinto já no passado saiu em defesa de José Sócrates e volta a fazê-lo exprimindo todo o ódio que verte há anos contra juízes e procuradores. Esse ódio, essa cegueira que confunde justos com pecadores só porque usam a mesma farda, é da mesma natureza da que o atrai para os 18.000 euros mensais de eurodeputado: é a perturbação emocional que levou à sua ascensão e levará à sua perdição.

Confesso que me desiludiu pois cheguei a pensar que esse demagogo iria causar problemas ao status quo, mas o tempo esclarece que pode suicidar-se, reduzindo-se à insignificância antes dessa praia.

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