quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

Sócrates, Costa e a cabala dos tontos

Depois de José Sócrates, num primeiro impulso racional, ter dado ordens para o PS parar a cabala contra justiça, exigindo que o Partido Socialista tentasse ganhar as eleições legislativas e presidenciais, única forma dele se safar da prisão, o congresso socialista fingiu que Sócrates não existia.

Excusado será dizer que Sócrates queria o fim da cabala, mas não queria ser votado ao ostracismo.

Muitos acharam que Costa foi esperto em fingir que o elefante na sala do congresso era transparente. Mas não era isso que Sócrates queria. Sócrates queria que não se montasse uma urdidura, sempre fácil de descobrir num país pequeno e que desta vez tem menos chances de vencer do que no passado, mas se mantivessem as expressões emotivas de amizade por parte do PS.

A Sócrates cabia o papel de pedir "não se metam, não confundam o nosso belo Partido Socialista com a minha tragédia pessoal" e ao PS o papel de expressar lealdade, mas manter a coisa na esfera pessoal.

Costa errou, ao contrário do que disse a imprensa, ao ignorar em excesso Sócrates. A coisa precisava da dose certa, não de fingir que Sócrates nunca tinha nascido. Não vale a pena a Costa pretender que Sócrates não está indiciado de corrupção enquanto primeiro-ministro do tal governo de que Costa foi o número dois. Corrupção à escala de milhões e que terá passado pelo BES de Salgado, o banqueiro a quem Sócrates declarou amizade eterna em plena televisão.

Costa tinha de tentar o trabalho de defender que Sócrates merece a confiança pessoal dos socialistas, que é um caso humano, que há um processo em relação ao qual não nos podemos precipitar, que confia na Justiça, mas que a pobreza do país não permite que o drama pessoal de Sócrates seja usado pelo governo para esconder a má governação. A seguir tinha de falar da má governação e avançar propostas concretas.

Mas Costa tentou assassinar Sócrates através do silenciamento e Sócrates não gostou. Infelizmente para Costa o elefante Sócrates não é transparente e nos media trava-se, mesmo sem a interferência da máquina do PS, uma campanha do grupo Balsemão (SIC, Expresso e Visão) e do Público / TSF contra a Justiça. Não é uma cabala de competentes, é uma campanha de tontos e os tontos não estão a obedecer a Costa.

Essa campanha de incompetentes dá tiros nos próprios pés. Por exemplo alguns tontos exigiram saber porque é que Sócrates foi preso, sim, diziam eles, "porquê?", facilitando a decisão do Supremo de revelar que Sócrates é suspeito de corrupção ativa e não apenas passiva, durante o exercício de funções governativas. Facilitando ainda a revelação da história dos computadores que foram retirados da casa de Sócrates às escondidas para os apagar e da história da fuga para o Brasil, com bilhetes comprados e tudo.

Os totós queriam saber tudo e quanto mais sabem pior para Sócrates. Uma especialmente obtusa, Clara Ferreira Alves, exigia até praticamente uma conferência de imprensa do Ministério Público que, a acontecer, revelaria muito mais suspeições concretas contra o putativo corrupto socialista. 

Os burros exigem saber porque se prendeu Sócrates e quando lhes explicam levantando uma ponta doa manta, dão gritinhos de falsas virgens clamando "ai que estão a revelar segredos de justiça", "as patifarias do Sócrates são para manter em segredo e eles estão a revelar tudo, ai, ai".

No seu pequeno cérebro o Teco faz as perguntas e o Tico dá guichinhos de horror quando lhe dão as respostas. Se não querem ouvir as respostas, não seria melhor não fazerem as perguntas?

Ponhamo-nos agora no lugar de Sócrates: ele tem o pior de dois mundos.

A) Mantém-se a cabala que ele não queria, só que agora é uma cabala de tontos e não do PS. Provoca os estragos de qualquer cabala sem conseguir salvá-lo a ele. 
B) É votado ao ostracismo por Costa, o seu ex-número dois, que o trai apesar de lhe dever tanto.

Por isso a fuga para a frente de Sócrates neste segundo impulso, agora descabelado e irracional, da carta enviada para o Diário de Notícias.

Costa precisava de ter uma ideia para o país, uma ideia que fosse, para que as forças do Status Quo acreditassem na sua vitória. Mas Costa vivia da sorte do seu opositor ser o TóZero Seguro e do país estar farto de sofrer às mãos de Passos Coelho. Não viva das suas ideias próprias, inexistentes, sua força pessoal, da sua coragem e carisma.

Costa fez a fuga para a esquerda, esquecendo que o fenómeno "Podemos" em Espanha impede que a esquerda silencie a corrupção das elites, de que Sócrates e o seu amigo Salgado são o expoente máximo. Corre para a esquerda mas a esquerda está ressabiada.

António Costa está nas suas próprias pequenas mãos, nas mãos da esquerda e nas mãos dos tontos. Nenhuma das três o consegue ajudar.

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