- Há em Portugal uma tendência para justicializar a política tal como há uma tendência, apesar de bem menor, para politizar a justiça.
É um problema muito antigo do país.
Há o exemplo clássico do Marquês e dos Távoras que pela crueldade ofende e parece dum mundo que nos é estrangeiro, há inúmeros exemplos na Primeira República Jacobina, há décadas de tribunais plenários do Estado Novo e há a criminalização da extrema direita actualmente.
Esta tendência representa uma fragilidade da nossa capacidade exprimir discordância frontal à luz do dia e pouco tem a ver com perdoar ou não comportamento criminal nos políticos.
Na antiga URSS a dissidência era uma doença mental.
Cá a dissensão é um comportamento anti-social. Por isso quando discordamos visceralmente de alguém pedimos ajuda ao código penal: não somos nós que recusamos consenso é o outro que é um criminoso por capturar.
Vejamos o caso do Falso.
Sócrates, imaginemos por hipótese, comprou criminalmente as suas luxuosas casas, a sua e da sua progenitora.
Sócrates tenha assinado projectos de barracos da autoria de terceiros usando a sua ascendencia sobre a CM em seu favor. Sócrates tenha tentado limitar a liberdade de imprensa no caso da TVI e do seu Jornal de Sexta.
Sócrates tenha falsificado o seu curso de engenharia quando era secretário de estado.
Suponhamos pois que este contribuinte cometeu todos esses crimes comuns.
É esse o principal problema que o país tem a ajustar com dSócrates?
Que vale isso quando comparado, a título de mero exemplo, com o facto do primeiro-ministro Sócrates (não o contribuínte, o eleitor, o utente, o projectista, o aluno, o cidadão) mentir de forma grosseira dezenas e dezenas de vezes durante anos atrás de anos com a complacência da imprensa, das instituições, da intelectualidade, até há bem pouco tempo.
E principalmente com a complacência de Costas, Seguros, Assis, Jorge Coelhos, Vitorinos, Anas Gomes, Sérgios , Constâncios, João Soares, Correias de Campos, Marianos Gagos e a quase totalidade do seu partido.
Condene-se Sócrates, imaginariamente, por esses crimes comuns. A máquina oculta mantém-se. Dirá ou que a justiça falhou ou que nada sabiam. Porque ninguém os confrontou pelo branqueamento político de Sócrates.
Ninguém lhes pede contas pelo silencio de poucos e pela cumplicidade de quase todos - não nos putativos crimes que poderiam não conhecer com certeza suficiente mas pela cumplicidade com a gigantesca encenação de mudanças externas para justificar inflexões previamente preparadas, desonestidades políticas, traição a todos os compromissos, duplicidade constante, uso de dois pesos e duas medidas.
Mentiras deliberadas, repetidas, ao soberano, o povo.
Criminalizar Sócrates é fugir do debate principal, do ataque directo, político, ideológico aos que despezam a verdade para obter vantagem. Essa máquina disposta a tudo, até a abandonar o contribuínte Pinto de Sousa, ficará incólume.
Relvas elogia Costa, elogia Seguro, elogia Assis e elogiará todos os Pilatos, enquanto Catroga pede que crucifiquem este Agesta.
Não precisamos, como cidadãos, de nos esconder atrás das saias da justiça, por temermos invectivar o grupo sociopolítico que está disposto a tudo para comer à mesa do orçamento.
À justiça o que for da Justiça. À política o que é da política.
domingo, 1 de maio de 2011
Fugir ao confronto
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Sendo Portugal um país de trafulhas é natural que se reveja no actual primeiro ministro.
ResponderEliminarPor cada grande trafulha há cem pessoas que sofre de um dos filhos do pecado capital da preguiça - a pusilaminidade.
ResponderEliminarContudo do ponto de vista político (e não cultural) devemos recusar o branquemento dos grandes trafulhas por parte dos que mesmo não trafulhando beneficiam da trafulhíce.
Todos aqueles que amparam Sócrates quando este trai os seus compromissos, quando não diz ao que vai mas não larga o leme, devem ser responsabilizados politicamente.
Confrontar Assis, confrontar António Costa, confrontar Basilio Horta, confrontar Correia de Campos e todos os que saiem à liça para defender o Falso enquanto ganham com as vitórias dele.