quarta-feira, 4 de maio de 2011

Ganhámos

Conheci, enquanto estudante, uma figuraça única que dizia ter raro faro para a actividade política associativa universitária. O jovem imaginava-se aliás primeiro ministro num futuro distante, frequentava embaixadas improváveis e escolhera de entre os amigos já alguns ministros para quando ocorresse o seu triunfo.  Apesar de ser de direita e muito engravatado, teve sucesso na associação de estudantes duma faculdade que lhe seria em principio hostil dado o predomínio da esquerda nessa casa.

 O rapaz sempre que podia aproximava-se do Prof. Adriano Moreira para buscar conselho e tentar mostrar serviço - mesmo que nenhum serviço lhe tivesse sido encomendado. Sentia-se perto de Deus quando chegava à fala com o Professor.

Contou-me uma pessoa próxima que numa das suas muitas aventuras político-mediáticas, um dia apoiou certa candidatura a uma faculdade Lisboeta. O resultado não foi mau mas perderam. O nosso arguto político, apesar da derrota, incumbiu um amigo que iria encontrar-se conjuntamente com ele com o Prof. Adriano Moreira de dizer que ganharam a eleição.

"Só tens de dizer que ganhámos quando o Professor perguntar. E manter sempre um grande sorriso. É preciso manteres um ar de vencedor. Eu depois explico o resto, instruiu o profeta". Chegados ao pé do Professor este indagou do resultado da contenda. "Perdemos" disse o amigo do profeta ao bom professor.

Quando viu a figuraça umas horas depois ainda cuspia fogo. "Só tinhas de dizer "ganhámos", é muito difícil de perceber? Ganhámos! Mais nada. Qualquer cigano ensaiado sabia fazê-lo, não é dificil! Ganhámos".

Pensei para comigo que estas figuras de banda desenhada só apareciam na estufa protegida da vida universitária. Não sobreviveriam na rua, no mundo "real".

Até que a vida me apresentou José Sócrates, essa figura patética e irreal que assessorado pelo Luis percorre a cavalo, numa armadura Armani, há mais de seis anos um país de nove séculos de história como se fora um grande senhor. Personagem duma farsa, provou-me que o descaramento vence quase sempre o ridículo, que as pessoas engolem quase tudo e, principalmente, que as pretensas elites são povoadas de invertebrados.

A Sócrates hoje, como o tonto profeta explicava na minha juventude, basta dizer "ganhámos" e pôr-se ares de vencedor.

Chegámos a isto.

1 comentário:

  1. Mas aldrabão como é, do sókras ainda um dia se descobre o cou ao léu de farsante.

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